sábado, 12 de março de 2011

HISTÓRIA VERDADEIRA - CARRO DE MÃO COM MOTOR

HISTÓRIA VERDADEIRA DE UM CARRO DE MÃO COM MOTOR
   Após ter passado à reforma quando corria o ano de 1993, ao passar junto de uma estação de serviço na área da minha residência, verifico, que no exterior, estava estacionada uma viatura com características que não conhecia, totalmente abandonada e que tinha, apenas, a função de servir de reservatório para todos os resíduos que ali, diariamente eram produzidos os quais eram colocados na sua caixa com as dimensões de 1,42 X 1,42 metros.


GM-AMIGO - ANTES - DEZEMBRO DE 1993.


  O estado da  viatura apontava para a quase impossibilidade de se poder fazer um restauro não muito dispendioso mas, mesmo assim, entendi meter-me na aventura, já que precisava de um meio de transporte semelhante, para na minha aldeia, me dar o apoio logístico no transporte da lenha da floresta para a lareira e, ainda, nas épocas da vindima e da apanha da azeitona a poder utilizar nas deslocações das uvas para a adega e da azeitona para o lagar pelo que, combinado o preço, começo por pagar, pela mesma, a importância de setenta mil escudos.
   A viatura, equipada com um motor da GM, com 1256 cm3 de cilindrada, modelo Amigo, feita em Braço de Prata – Portugal – tinha, inicialmente, como destinatário um administrador do Crédito Predial, Banco que já não existe, e iria ter como destino o apoio logístico nos tempos lúdicos daquele quando pretendia ir à caça; A sua homologação contempla uma série de características, a saber: Caixa aberta com ou sem estrado forrada a alumínio forte, capota de lona flexível, compartimento para bebidas existente entre a cabine e os dois passageiros da parte traseira, apenas dois passageiros na cabine pelo que tinha e tem um peso bruto de 1200 quilogramas; No estrado, a parte de trás, ao ser levantada, serve de encosto e a parte da frente, ao cair para trás, vai servir de assento; A caixa, que foi adaptada, está fixada por seis parafusos aos guarda-lamas traseiros e ao chassis, pelo que é fácil voltar a colocar a viatura na versão original; O vinte e cinco de Abril vem impedir que a viatura fosse entregue ao destinatário inicial em virtude deste ter emigrado para o Brasil, sendo a colocação da caixa, citada no início desta narrativa, sido feita pelo proprietário da estacão de serviço.
  A partir do momento da compra começam os problemas a saber: A mecânica levou um mês seguido de trabalho a um mecânico para ser totalmente revista e reparada; O motor tinha um problema na bomba de óleo e não havia já peça para o reparar; A direcção não se conseguia alinhar pelo facto de ter o charriot estalado; Como alternativa, após muito procurar, lá consegui encontrar num ferro velho uma suspensão igual e outro motor para do conjunto se retirarem as peças possíveis para completar o restauro da mecânica.
  A chapa, quinada, estava toda podre pelo que tive também de mandar fazer toda a chaparia e um belo dia de Janeiro de 1994 aí parto eu às cinco da manhã, com o carro a andar, mas embrulhado numa manta visto que o frio era tanto que até pelo sítio dos pedais entrava o ar gelado da manhã; Levava ma mala toda a chaparia e ainda todo o material que sobrou dos dois conjuntos, para numa oficina da aldeia, recomeçar o trabalho de cortar a chapa velha e de soldar a chapa nova, e da pintura, como acabou por acontecer, após mais um mês de trabalho.
   Assim, em Fevereiro de 1994. a viatura estava, finalmente,  pronta; Contas feitas apurarei uma despesa de cerca de setecentos e cinquenta mil escudos; Para quem deu setenta mil escudos no inicio, dá que pensar duas vezes antes de! Mas paciência, só que um mal nunca vem só!


GM - AMIGO - DEPOIS - FEVEREIRO DE 1994.
Sabem porquê, caros leitores?
   Na época, e ainda hoje, todos os veículos ligeiros de passageiros com mais de vinte e cinco anos ficam isentos de imposto de circulação; Os ligeiros de mercadorias passavam a ficar isentos a partir de vinte anos; Como o livrete da minha viatura era de 1973, ainda paguei um trimestre da licença de circulação no valor de trezentos escudos, pelo que a viatura, nestas circunstâncias, ao ir ficar isenta, contribuiu também para que eu me tivesse metido naquela aventura.
    Depois, em 1995, começam as inspecções periódicas e aí é que foi o bom e o bonito; O trabalho que até aqui não tinha sido bem feito acabou por mais umas visitas ao mecânico para corrigir os problemas que tinham sido objecto de chamadas de atenção do tipo I. Numa das inspecções recentes, sou brindado com a anotação que devia trocar o livrete em virtude da matrícula estar quase invisível; Como resultado, em função do conjunto de características a passar para o Novo Documento Único de Circulação, o livrete andou no vaivém cerca de seis meses até que finalmente pensava que o tormento tinha acabado, mas não, já que em Julho de 2009, quinze anos depois, recebo um e-mail das Finanças a informar-me que tinha um imposto de circulação a pagar.
   Ao achar estranho vou à Net e verifico no site que apenas existia e existe ainda a possibilidade de consulta para veículos de mercadorias com peso bruto superior a 2500 Quilogramas; Como o meu tem 1200 Quilogramas de peso bruto fiquei descansado, mas não totalmente, pelo que me dirigi pessoalmente à Repartição de Finanças da minha área para clarificar o assunto; A funcionária, extremamente delicada, ao atender-me diz-me; O senhor tem aqui para pagar o imposto de circulação desta viatura no valor de vinte e nove euros e as viaturas de mercadorias enquanto tiverem matricula activa têm de pagar imposto, independentemente da cilindrada, sempre mas se quiser  pode dirigir-se ao IMTT ; Não me valeu a pena argumentar as razões que eu pensava que me assistiam, já que a funcionária ao estar á gerir certezas e ali não estar alguém habilitado para decidir as incertezas em causa , perante o impasse, peço-lhe o favor de me tirar a nota de liquidação para fazer o pagamento.
  Para admiração minha, em seguida, diz-me que além daquela importância tinha também o imposto referente a 2008, no mesmo montante, mas já com juros de mora no valor de mais quinze euros. Claro que acabei por pagar os setenta e três euros, mas confesso que fiquei chateado.
MORAL DA HISTÓRIA
   Eu que pensava ter feito um bom investimento, baseado na legislação que, ainda, durou mais quinze anos, vejo agora o meu carrinho de mão com motor, por ser de mercadorias, ressuscitar para a vida.
  Aqui parece-me haver uma grande injustiça em relação aos veículos ligeiros de passageiros que continuam isentos e o meu carrinho de mão que toda a vida trabalhou sabe agora que alguém decidiu que ele tinha que trabalhar até morrer sem nunca mais ter direito à reforma.
   Assim, ao estar solidário com o meu carrinho de mão com motor, posso-lhe assegurar que o levarei todos os anos à Inspecção para que ele, ao ter sido ressuscitado para a vida, possa ter o seu fim a trabalhar pouco, mas a pagar tanto como os que trabalham muito.
 PS: A viatura faz mais ou menos cem quilómetros por ano, sendo que, quase metade destes, são gastos nas deslocações para as inspecções.
Mais uma história verdadeira da minha Biblioteca Viva!
Março de 2011. - Cumprimentos.

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