segunda-feira, 25 de abril de 2011

NEM SEMPRE SOMOS BEM COMPREENDIDOS !

NEM SEMPRE SOMOS BEM COMPREENDIDOS!



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    Antigamente, na zona mais a norte da Beira Litoral, podíamos encontrar num pequeno perímetro um conjunto de aldeias com poucos habitantes pertencentes à mesma freguesia ,mas que se conheciam e conviviam nos bons e maus momentos, especialmente nas missas dominicais, nos acompanhamentos fúnebres, no mercado semanal que se realizava na sede do concelho, nas festas e romarias e ainda quando os homens que se juntavam nas tabernas da aldeia para ouvir o relato de futebol na telefonia, jogar às cartas e beber o seu copito de vinho.
    As mulheres viúvas, bem como as casadas, acompanhadas das filhas, paravam no largo da aldeia para aí, além de porem a conversa em dia, quase sempre em torno dos problemas da agricultura, aproveitavam, também, para combinar qual a casa, com a juventude que existia, onde se iria realizar o bailarico nesse domingo.



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   Nos anos setenta regressou à minha aldeia um senhor, já reformado, que para espanto dos moradores era proprietário de bonito Ford Capri, de cor castanha, que utilizava no seu dia-a-dia; Tinha cerca de sessenta anos, vivia sozinho e, com frequência, parava o carro no largo da aldeia aos domingos para admiração de uns e alguma inveja de outros, como á frente veremos nesta narrativa, visto tratar-se do primeiro automóvel que na aldeia apareceu.
    Como natural da aldeia, conhecia os hábitos da população e fazia todos os possíveis para que a sua integração fosse plena.  Quando estava na  taberna, ponto de encontro dos homens da aldeia, pagava vinho a toda a gente e, como a sua reforma era paga em Dólares, ele dizia bem alto para o taberneiro “ Ó João Carrevalho, bota aí vinho, onde chega o Dólar bota fumo”. Escusado será dizer, que o pagamento era feito em escudos.
   Numa outra ocasião, ele foi acompanhar um funeral à sede da freguesia, mais ou menos a quatro quilómetros de distância, de um senhor que faleceu,  e que residia numa povoação a cerca de um quilómetro e, como habitualmente, fez-se transportar sozinho na sua viatura.
    O funeral foi na parte da manhã e era hábito no regresso os homens pararem em quase todas as tabernas, em número de três, existentes no caminho para o que chamavam de ir matar o bicho, normalmente com abafado, aguardente ou vinho, não havia problema, visto que sentiam necessidade de “rincer le siphon”, isto é molhar a goela.
   Quando os homens chegaram à última taberna lá estava o nosso bom homem com o Ford Capri estacionado à espera para pagar, mais uma vez, uma rodada aos presentes e, na sequência da conversa, lá vem a necessidade de ter de explicar a um mais curiosos os motivos que estiveram na base da necessidade que teve em comprar a máquina.


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   Até aqui tudo deveria parecer estar correcto, só que o mesmo curioso com o copo de vinho na mão, pago pelo nosso bom homem, vira-se para este e diz-lhe alto e em bom som para que todos os presentes o ouvissem:
O meu macho também tem lá um carro e eu tive que vir a pé!
   Caros leitores, o que é que ele quereria chamar ou dizer? Fica a questão para reflexão!
Mais uma história verdadeira da Biblioteca Viva
abliotecaviva.blogspot.pt

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