sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

HIERARQUIA E POLÍTICA.

HIERARQUIA E POLÍTICA

Citação
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    Cada partido político, como qualquer dos seus membros sabe, é uma hierarquia. Por consenso unânime, a maior parte dos membros não trabalha para coisa alguma e ainda paga pelo privilégio. Contudo, existe uma estrutura bem marcada de categorias e um bem definido sistema de promoção de categoria para categoria.
Até aqui apresentei o Princípio de Peter na sua aplicação a funcionários pagos. Vamos ver agora se ele continua válido para este tipo de hierarquia.

    Num partido político, como uma fábrica ou num exército, a competência numa determinada categoria é um requisito para a promoção. Um competente e diligente angariador de votos é susceptível de promoção e pode ser autorizado a organizar um grupo de angariadores. O angariador ineficiente ou antipático continuará a bater às portas, alienando os votantes.
    Um homem rápido a encher envelopes pode esperar ser chefe de um grupo para encher envelopes. Se for incompetente ficará a encher envelopes, calma e desajeitadamente, pondo duas listas em alguns e nenhumas noutros, dobrando mal as listas, deixando-as cair, etc., todo o tempo que permanecer no partido.
Um competente angariador de fundos pode ser promovido ao comité que nomeia o candidato. O facto de ter jeito para pedir não implica que seja um competente juiz de homens como legislador e que não apoie um candidato incompetente.
    Mesmo que a maioria dos membros do comité de nomeação fosse constituída por competentes juízes de homens, o candidato seria escolhido, não pelo seu possível saber como homem de leis, mas sua presumível habilidade para ganhar eleições.

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    Antigamente, quando as grandes assembleias públicas decidiam os resultados das eleições, e quando o falar em público era uma arte nobre, um orador fascinante podia esperar que um partido o nomeasse e o melhor orador entre os candidatos podia ganhar o lugar. Mas não dúvida que a habilidade para encantar, divertir e inflamar uma multidão de dez mil votantes por meio da voz e do gesto não implica necessariamente a capacidade para pensar sensatamente, para debater com calma e decidir com inteligência sobre os interesses da nação.

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    Com o desenvolvimento das campanhas electrónicas, um partido pode apresentar o homem que tem melhor apresentação na TV. Porém, a capacidade para gravar- -- com ajuda da maquilhagem e das luzes --- uma imagem atraente num écran fluorescente não é garantia de competência como homem de leis.
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    Muitos homens, tanto no antigo como no novo sistema, deram o grande passo de candidatos a legisladores apenas para atingir o seu nível de incompetência.


-----É óbvio e o leitor já o terão compreendido, que o Princípio de Peter se aplica também ao ramo executivo: repartições, escritórios, departamentos, agências e gabinetes governamentais, a nível nacional, regional e local. Tudo, desde as forças da polícia às forças armadas, são hierarquias rígidas de empregados assalariados e todas elas estão, necessariamente, sobrecarregadas de incompetentes que não sabem desempenhar as suas funções e que não podem ser substituídos nem afastados.
    Qualquer governo, quer seja uma democracia, ditadura, burocracia comunista ou economia livre, cairá quando a sua hierarquia atingir um intolerável estado de maturidade *.

* A eficiência de uma hierarquia é inversamente proporcional ao seu coeficiente de maturidade (QM).

 QM = Nº de empregados em nível de incompetência / Nº de empregados da hierarquia X 100.

É evidente que quando o QM atinge 100 não será realizado mais trabalho útil.


Fonte:  O Princípio de Peter –  sobre Hierarquia e Política, a folhas  84  a 87.  Publicado pela Editorial Futura em 1971.
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31-01-2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

OS ESPELHOS NORMAIS NÃO MENTEM.

OS ESPELHOS NÃO MENTEM.


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Autor: José Mauro de Vasconcelos

Antes de voltar a arrumar o livro na estante, transcrevi mais este trecho «Cantiga da Velhice» que espero, gostem.

« Giribel passou junto do rancho e encontrou Madrinha Flor com as mãos caídas sobre o colo. Encostada no mourão da porta, ficava vendo o motor subindo na curva do rio. O poque-poque martelava na distância.
Chico do Adeus, debruçado na janela, também espiava o motor subindo no brilhante do estirão. Ele comentou em voz alta:

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«Quem nasce cum raiz não viaja memo».

--- Diabo, se eu fosse maluco do pão, numa hora dessa tava dano adeus para todo mundo. Mas quem nasce cum raiz num viaja memo.
Giribel olhou Madrinha Flor.
-- Zé Orocó também foi, num foi madrinha?
Ela acariciou sua carapinha rala.
---- Foi,
Soltou a mão e a mão descaiu sem vida, como um pedaço de chumbo. Aquele chumbo que intumescia seu peito, cada partícula do seu ser. Suas forças, suas carnes morriam num cantar desesperado. Algo que nunca fora seu acabara de partir levando todo o seu rápido ressurgir para a vida. De agora em diante, as noites seriam bem mais longas e os dias caminhariam como duas eternas paralelas sem jamais se encontrar.
Madrinha Flor conseguiu entrar no rancho. Mas ao longe o ronco do motor era o pêndulo do tempo. O tempo lhe mostrava uma amarga verdade. Passaria a usar um lenço nos cabelos para esconder o branco que se iria alastrar pela sua cabeleira longa. Lavaria outros suores, alimentaria outras bocas, mas tudo seria diferente… tudo estaria morto e oprimido.
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Apanhou o espelho e sentou-se no banco. Apoiou-se sobre os cotovelos e fixou sua imagem no espelho. Aquele não mentia. Não criava ilusões. Sua boca pendia sustentada por duas rugas profundas; marcas de sol criavam grandes pregas em volta dos olhos e os olhos imploravam piedade e renovação.

Premiu as mãos sobre os peitos murchos e murmurou baixinho, colando os lábios ao espelho amigo, enquanto seu coração comentava, amedrontado…

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--- Eu tô véia… Eu tô véia… »

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29-01-2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

TEMPO! DEFINIÇÃO EM TEMPO DE GUERRA.

TEMPO! DEFINIÇÃO EM  TEMPO DE GUERRA.

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«No livro  « Vida e Destino» Vassili Grossman pinta um imenso fresco da Rússia Soviética, com incidência  nos anos da Segunda Guerra Mundial, na ofensiva alemã  e na defesa  e, depois  na contraofensiva Soviética, que culminou  na libertação de Stalinegrado    e  dos territórios ocupados pelos nazis».
Os nazis na sua senda de exterminar os Judeus não se pouparam a esforços para atingirem aquele horrendo objetivo que acabou por vitimar milhões de judeus – homens, mulheres, idosos e crianças, « todos na flor da vida do seu tempo». Nos países que iam ocupando, caso da Rússia, iam criando os seus campos de concentração, como aquele que inspirou o autor do livro acima citado a escrever o texto a seguir que aqui deixo em homenagem a todos aqueles que pereceram no Holocausto.


Imagem tirada do Facebook

Hoje assinala-se o “Dia Internacional em Memória da vítima do Holocausto”. Aqui fica a nossa singela homenagem a todos os que foram submetidos a tal brutalidade. Ficam também os desejos para que o Homem nunca se esqueça destes acontecimentos!
“ A música que tocava *, despertava nele a compreensão do tempo. O tempo é o meio ambiente transparente em que as pessoas surgem, se movem, desaparecem sem rasto… No tempo, nascem e desaparecem aglomerados de cidades. O tempo trá-las e leva-as. Mas nasceu nele outra compreensão do tempo, muito peculiar. Aquela compreensão que diz: «No meu tempo …. Não é o nosso tempo”. O tempo corre para dentro do homem e do país, aninha-se neles, depois o tempo vai-se embora, 


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O país ficou, mas o seu tempo passou… O homem vive, mas o seu tempo desapareceu. Onde está? Eis o homem que respira, pensa, chora, mas aquele tempo especial, único, ligado apenas a ele, foi-se, passou, esgotou-se.
Ele, porém continua a viver.
O mais difícil é ser não-filho do tempo. Não existe nenhum destino mais penoso do que o de não-filho, a viver num tempo que não é o dele. Os não-filhos do tempo saltam à vista de imediato: nas secções de pessoal, nos comités dos partidos locais, nas secções políticas do exército, nas redações dos jornais, na rua … O tempo gosta apenas daqueles que gerou – os seus próprios filhos, os seus heróis, os seus trabalhadores. Nunca por nunca nutrirá amor pelos filhos do tempo passado, e as mulheres não gostam dos heróis do tempo passado, e as madrastas não gostam dos filhos alheios.
Assim é o tempo – tudo passa, mas ele fica. Tudo fica, mas o tempo vai-se. O tempo vai-se embora num passo tão leve, tão inaudível … Ainda ontem foste tão seguro, animado, forte: filho do teu tempo. Hoje chegou outro tempo mas ainda não o compreendeste.
O tempo despedaçado no combate surgiu do violino de contraplacado nas mãos do barbeiro Rubintchik. O violino comunicava a umas pessoas que o tempo era delas e a outras que o tempo estava a passar.
«Passou, passou» pensou Krimov».
 »

Passou! Foi só tempo de abrir as valas comuns ….  Digo eu...

* Jan Kubelik (1880-1940)- famoso violinista e compositor checo.


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29-01-2014

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

INCOMPETÊNCIA COERCIVA

INCOMPETÊNCIA COERCIVA

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Ao rever este assunto, na minha biblioteca física, encontrei no livro « O Princípio de Peter ( The Peter Principle) que lá se encontra com sublinhados  ,desde o ano de   1970,  um capítulo sobre  uma matéria   que me tem deliciado, pela negativa , ao longo da minha vida,  e  hoje!,  ao analisar  o conteúdo que, a seguir se transcreve, inserto nas páginas 119,120 e 121 do livro acima citado, continuo a pensar que , infelizmente, nada mudou, Espero que gostem e, sobretudo, meditem.

«INCOMPETÊNCIA COERCIVA»

“ Ao rever estudos profundos de alguns casos de competência nos níveis mais altos da hierarquia, pareceu-me salientar um fenómeno psicológico que vou descrever. A competência no Zénite é rara, mas não completamente inédita. No capítulo I, escrevi:
«Com tempo suficiente --- e partindo da existência de categorias suficientes na hierarquia ---cada empregado se eleva até ao seu nível de incompetência e permanece nele».
Marechais vitoriosos, inspetores escolares bem-sucedidos, presidentes competentes e outros tantos, simplesmente, não tiveram tempo de atingirem o seu nível de incompetência.
Por outro lado, o aparecimento de um competente presidente de um sindicato comercial ou reitor de uma universidade demonstra simplesmente que, naquela hierarquia particular, não havia categorias suficientes para que atingissem o seu nível de incompetência.
Estas pessoas exibem «Competência no Zénite» *

Observei que estes competentes no Zénite não se contentam em ficar na sua posição de competência. Eles não podem subir a uma posição de incompetência ---já atingiram o topo da hierarquia --- e assim têm uma forte tendência para passar para outra hierarquia --- por exemplo, do exército para a industria, da política para a educação, do negócio para a política, etc. --- e atingir no novo ambiente, esse nível de incompetência que não podia atingir no anterior. A incompetência coerciva.

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Casos escolhidos do ficheiro da Incompetência Coerciva.
Macbeth, um bom comandante militar, tornou-se um rei incompetente.
A. Hitler, um político consumado, encontrou o seu nível de incompetência como Generalíssimo.
Sócrates foi uns professor sem igual, mas encontrou o seu nível de incompetência como advogado de defesa.
 Porque procedem eles assim?

«A este lugar falta competição».

Esta, ou uma variante, é a razão invariavelmente dada pelos competentes no Zénite, quando pensam na mudança que, eventualmente, os conduzirá à incompetência coerciva.

Será por necessidade?

Há de facto, uma maior e mais fascinante competição em permanecer abaixo do seu próprio nível de incompetência, O autor diz: Que discutirá este assunto num outro capítulo.

* Os nossos registos contêm alguns casos de «Competência no Zénite» em vários campos --- indivíduos que poderiam estar no ponto mais alto de várias hierarquias ao mesmo tempo. A. Einstein é um exemplo desse fenómeno. Era um pensador altamente competente que forneceu à ciência uma teoria especial e geral da relatividade.  Também é óbvio que Einstein era altamente competente no campo da moda masculina. O seu penteado e a sua maneira de vestir lançaram uma moda seguida pelos jovens da sua época. Considerando o que conseguiu no mundo da moda, sem esforço, imaginemos o que poderia ter conseguido se tivesse realmente tentado.

Logo que oportuno postarei o que o autores do Livro «O Principio de Peter», Dr Laurence J. Peter e Raymond Hull,  pensam  sobre a  «Hierarquia do Partido»





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28-01-2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

RECORDANDO ! OS BAILARICOS DA ALDEIA

 O BAILARICO DA ALDEIA.


Bailarico
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Nas décadas de 50 e 60, aos domingos, feriados e dias santos, o largo, onde se malhava o trigo e o centeio, era, também, o centro do mundo, para as boas gentes da minha aldeia. Ali se reuniam as mulheres viúvas, bem como as casadas, acompanhadas das filhas solteiras, onde, além de colocarem a conversa em dia, quase sempre em torno de problemas relacionados com a agricultura, aproveitavam, também, para combinar e pedir a casa onde, com a juventude que existia, se iria realizar o bailarico nesse domingo, já que este era o único divertimento, na época, existente. Trabalhava-se duro na agricultura de segunda a sábado e as jornadas eram do nascer do sol ao Sol-posto. Vida dura! Toda a gente esperava pelo Domingo! Sagrado dia de descanso!

Citação
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Os homens! Reuniam-se na taberna, onde jogavam às cartas, e continuavam a alimentar a necessidade de « rincer le siphon»   (1) com o seu copito de vinho, acompanhado , quase sempre com tremoços ou amendoins , para ali ouvirem, quando havia, os relatos de futebol já que, na aldeia,  a única telefonia existente,  alimentada a pilhas, era ali que residia.

Taberna
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Chegava-se, com a juventude que havia, a fazer dois bailaricos na aldeia; As moças vinham acompanhadas das mães, sendo os bailes alumiados pelas candeias, a petróleo ou de azeite, com que se fizeram acompanhar desde as suas casas.

Candeias
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As mães acomodavam-se, depois, em cima das arcas do milho ou do centeio que existiam encostadas à parede, ponto privilegiado de observação dos seus tesouros; Os pais ficavam na varanda à espera que alguém os convidasse para irem começar a via-sacra das adegas, que consistia em andarem de adega em adega, a esvaziar levas, até o baile acabar, para depois regressarem a casa todos «zambros»(2) e a  «azambalhar» (3).  Por vezes tinham que ser as mulheres e as filhas a trazê-los para casa quando, estes , se não podiam mover com os seus próprios pés. Isto, infelizmente, acontecia muitas vezes.  No dia seguinte, estes heróis, já estavam guichos (4)) e, novamente, prontos para continuarem a xurdir (5). Bastava para o efeito, a ingestão, logo de manhã ,dum copito de aguardente acompanhado de figos secos.

Bailarico de roda
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Os bailes iniciavam-se sempre com cantigas de roda interpretadas por todos os intervenientes quer destoassem ou não; Quase sempre a primeira cantiga, que ainda hoje mora no meu ouvido era, como segue;
I
VIRA-TE P´RA MIM Ó ROSA.
MEU AMOR JÁ ESTÁ VIRADO.
ESTES RAPAZES D´AGORA
USAM O CHAPÉU AO LADO.
II
USAM O CHAPÉU AO LADO,
MEU AMOR FOI SEMPRE ASSIM!
QUEM ME DERA AO PÉ DELAS,
OU ELAS AO PÉ DE MIM.


E o baile continuava assim, com esta litania (6) repetitiva, até que aparecessem os tocadores de harmónio ou de concertina que, por vezes, se faziam rogados, para animar o baile. Mas, como eram privilegiados, pois, ao escolherem o par, podiam dançar toda a noite com ele sem serem incomodados e, assim sendo, lá se abria o fole para começar o baile que acabava, normalmente, lá para as 3 horas da manhã.
 Com exclusão dos tocadores, como disse, no baile havia regras, os rapazes da aldeia, eram presenteados, por vezes, com a vinda  de outros dançarinos provenientes de aldeias vizinhas e, sempre que isto acontecia, eles não ficavam nada satisfeitos, pois as moçoilas eram em menor número do que eles e, lá se tinha de andar a bater no ombro do dançarino no ativo, para pedir que este lhe emprestasse o par.
Por vezes as regras não eram cumpridas, visto que os dançarinos, por hábito, deixavam logo a moçoila pedida para a moda seguinte e, os outros rapazes quando as iam para puxar, ouvia a resposta «desculpe já tenho par».
Sempre que isto acontecia, os rapazes recuavam envergonhados e, a partir daí, o «caldo começava a entornar-se», já que toda agente na sala ficava a olhar para a «cena»; Ao recuarem, ficavam na periferia, a aguardar que a moda começasse para, depois, começarem a bater nos ombros dos outros dançarinos para lhe «ratarem o par».
Havia artistas que diziam «Esta noite só me vou embora quando dançar com todas as moçoilas». E, então, começavam por escolher aquelas que não exerciam tanta «pressão» para os manter à distância, pois, para eles, quanto mais agarradinhos melhor. Havia algumas moçoilas que, não estavam pelos ajustes, e puxavam o cotovelo do braço direito para cima e colocavam a mão direita, sobre o ombro do dançarino, a qual funcionando como uma mola, permitia-lhes manter os mais excitados à distância.
Lembro que esta prática era utilizada no período em que os pais andavam na via-sacra das adegas, pois logo que eles apareciam à porta da casa do baile, acabava-se-lhes logo «o calor».


Cena de pancada
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Ora caros leitores, até aqui tudo pareceram rosas, salvo os pequenos espinhos citados, mas havia alguns «habitués» (6) que, antes de entrarem para o baile, já tinham escondido, cá fora os varapaus (7), para quando as coisas não lhes estivessem a correr de feição começarem à porrada. Estes artistas também tinham uma regra que era a de começarem primeiro a partir todas as candeias da sala e, depois, começavam a estender «roupa» sem saber onde batiam, gerando-se, então, uma confusão danada, com toda agente a fugir e assim se acabava o baile.

Os prevaricadores, depois, eram premiados com saraivadas de pedras no exterior, para aprenderem a lição, contudo, depressa se esqueciam e as cenas, infelizmente, voltavam-se a repetir.


Bêbado
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O vinho estava quase sempre associado a estas cenas que, infelizmente, sendo frequentes, já faziam parte do triste espetáculo!

 Mas, mesmo assim, eram bons tempos que recordo com saudade.


 Legendas : 1- Rincer le siphon, molhar a goela. 2- Zambro, com as pernas arqueadas.3- Azambalhar, Ziguezaguear, não caminhar direito. 4- Guicho, ficar bom. 5- Xurdir, lutar pela vida. 6- Habitués, quase sempre os mesmos. 7- Varapau, vara com 4 ou 5 cm de espessura e com cerca de 1,80 m de comprimento.


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26-01-2014


sábado, 25 de janeiro de 2014

HAJA ESPERANÇA NO FUTURO .


ESPERANÇA.


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NÃO ENCONTRO! MAS PROCURO,

PR´A MINHA VIDA UM SENTIDO.

IREI TENTAR PULAR O MURO,

NESTE LOCAL!  ESTOU PERDIDO.



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25-01-2014

RECORDANDO! ESCOLA PRIMÁRIA E AMIGOS DE INFÂNCIA.

RECORDANDO !  AMIGOS  DA ESCOLA  PRIMÁRIA!
   

«O autor com 13 anos, no Cercal do Alentejo, como caixeiro, após ter terminado a instrução Primária»  
          
               Na época, eram lecionadas aulas até à 3ª classe; As turmas eram mistas e havia  apenas uma 
Professora Dª Júlia Gonçalves, de Vila Cã-Pombal , ver imagem abaixo, « aqui fica a minha sentida e pública homenagem , pela sua dedicação, gosto! pela arte de ensinar, não se tendo poupado a esforços para que alguns que, entendeu, pudessem dali sair mais bem preparados para a vida » ;  As aulas eram quase de sol a sol , das oito às dezanove, pelo menos, quando não havia prolongamento; Os alunos  eram sessenta e quatro, «fala-se hoje de produtividade?  Não me lembro de nenhum aluno, com esta professora, ali tenha reprovado!

            Os alunos  eram oriundos de vários  lugares da periferia da escola num perímetro de quatro quilómetros ; Na imagem seguinte, eu sou o segundo da segunda fila de cima, a contar da esquerda para a direita; cuidado! que, ao meu lado esquerdo, está o Isidro, que era moreno e a imagem não o deixa ver muito bem ; Eu sou o da camisa branca; A minha  actual e única esposa durante estes cinquenta e oito anos  é, a  oitava  da fila de baixo, a  contar da direita para a esquerda; Está de vestido branco com as mãos esticadas, junto à professora.

 ALUNOS DA ESCOLA DA FIGUEIRA 1945-1949

«Foto que me foi dada pela Professora, Dª Júlia Gonçalves, quando eu já tinha 73 anos de idade»

            Nunca perdi ano nenhum pois , sobre mim, pairava a ameaça  que os meus estudos parariam  se isso viesse a acontecer.

           Após ter completado a 3ª classe , a professora escolheu, do grupo , os melhores alunos  e, por sua iniciativa, convidou-os a frequentar a  4ª Classe do Ensino Primário Elementar.

   Eu fui um dos escolhidos; Vocação e vontade não me faltavam; Quando fomos fazer  o exame no Concelho de Pedrógão Grande , que na altura se escrevia «Pedrogam Grande» , ver diploma abaixo, foram dois dias de festa;  Foi a primeira vez que tinha ido à sede do concelho e  de ter ido lá estrear o meu primeiro «meio-par de botas novas», a parte da frente, por que a de trás foi aproveitada de outro par de botas do meu primo que era mais velho do que eu cinco anos.

    Ficamos todos hospedados numa  pensão local durante dois dias ; Lembro-me do meu tutor ter pago  dezanove escudos e oitenta centavos pela estadia e de me ter dito que tinha dado  vinte centavos de gratificação à empregada. Na prova oral, coube-me a mim a árdua tarefa de resolver todos os problemas que outros colegas tinham deixado por resolver no quadro; A confiança era tal que me virei para o Júri e disse,  podem perguntar mais que eu ainda sei; Como resultado, em 21-07-1949,eu estava na posse do Diploma com a menção de aprovado com distinção;


           Não consta que, naquela escola,  tenha sido obtida outra nota  de exame igual.

Extrato da minha autobiografia , ainda não publicada

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25-01-2014








sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O MONGE ESPONJA -2ª CARTA.


O NOSSO BOM MONGE CHEGOU «ENHRUMÉ»!

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Disse, na postagem anterior que, aquela carta, não era, nem mais nem menos, do que o início da pérola que só o gabarito do escritor J.V.Natividade podia descrever, com tanta subtileza e com tanto humor implícito. A segunda carta, que a seguir se reproduz, diz respeito a uma segunda visita do mesmo monge que, deduzo que o e mesmo, pelo seu comportamento, já conhecia o provérbio inglês «Bebe vinho e terás gota; não bebas vinho e terás gota na mesma», pelo que deixo, aqui, o fim da pérola iniciada, que espero gostem e comentem;

Mosteiro de Alcobaça
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«Resultou de uma doação de D. Afonso Henriques à Ordem de Cister, e, daí a vinda do monge Frei Maur em visita de estudo  e ….  Esta doação é feita depois da vitória sobre os Mouros na conquista Santarém. 

Ei-la :

 “ Meu querido amigo
A sua grande e boa amizade mais uma vez honrou este seu insignificante amigo permitindo-lhe que molhe os seus sempre ressequidos beiços, de modesto funcionário, nos néctares reservados aos grandes deste mundo e, no Olimpo, aos deuses imortais.
Assim como o pelicano, ao que dizem, dilacera a própria carne para alimentar os filhos, assim também o meu amigo devasta a sua garrafeira ( que é carne  da própria carne ) para que eu , tão longe  eleve a alma ao êxtase.  Eu, e um frade meu amigo.
Tenho de novo cá em minha casa Frei Maur, piedoso monge cisterciense que, ao ver abrir a caixa, e ao comtemplar as garrafas, me deu, nas costas, uma suave pancadinha, pôs os olhos em alvo, deu um estalo com a língua e lambeu os beiços. E perante tão expressiva e inocente mímica, senti em perigo o meu tesouro porque, nisto de sede, desconfio que os frades são ainda piores que os funcionários públicos.
Soltou um «voilá» que quase me fez explodir e me obrigou a rosnar entre dentes: «voilá» coisíssima nenhuma, meu frade gulosão! Haja decência!»!
É que o digno monge, discretamente, docemente, assim como não quer a coisa, tem feito tais estragos na minha pobre garrafeira que, se não fosse a generosidade de bons amigos, aquilo não passava de um reles cemitério de garrafas vazias.
Na última estadia aqui, durante doze dias, em Novembro, logo no segundo dia espirrou, tossiu e, com modos tristes, confessou-me que estava « enrhumé». Solícito, ofereci-lhe uma aspirina; mas o santo varão mediu-me com estranheza de alto a baixo, concentrou-se, consultou a alma, estendeu os beiços e exigiu conhaque.
Ora eu tinha aberto, religiosamente, há poucos dias uma garrafita de um fine champanhe que era a luz dos meus olhos.
 Puro veludo, e com um bouquet  e uma suavidade que só se alcançam  com sábios e transcendentes cuidados  de destilação e o lento envelhecer em tonéis veneráveis. Uma preciosidade, enfim meu preclaro amigo!
E foi só isto : às 8 horas, mal luzia a manhã, conhaque; às 10, conhaque; ao almoço, conhaque; às 3 da tarde, conhaque; às 6, conhaque; ao jantar, conhaque; ao serão, conhaque; e, enfim, antes de ir para a cama, conhaque ainda. Tenho conhecido constipações exigentes; porém, como isto nunca vi em minha vida.
E quando eu me preparava para comemorar, com dignidade, o aumento de vencimentos do funcionalismo, a garrafa estava vazia!
Já lhe expliquei que isto dos álcoois é péssimo para o fígado; descrevi-lhe quadros de cirrose de arrepiar; cheguei ao pormenor de descrever como se comportam as células do organismo perante o mortal tóxico, degeneram as células nobres do cérebro; falei-lhe das úlceras do estômago, do duodeno, da coquexia precoce… Exaltei, depois as virtudes da água, do capilé, da simples limonada e, cinicamente, falei-lhe até nas propriedades estomacais do pirolito.
Na esperança de salvar ainda qualquer coisa da minha garrafeira, e disposto a todos os sacrifícios, fiz esta proposta digna; «Mon père salvemo-nos pela abstinência; renunciemos a esses venenos, bebamos água, e só água, que a há aqui fresca e de primeiríssima qualidade! Mas o santo varão, em voz baixa, magoada e triste, de cortar o coração, acabou por me dizer: « Mon ami , mon cher ami: mon estomac ne tolère pas de l´éau !».
Que lhe hei-de fazer, meu amigo!
Com um gesto largo e generoso, abri uma garrafa de Porto de 1912, enchemos os cálices e bebemos com unção à sua saúde pedindo ao Bom Deus que lhe dê todas as felicidades no Ano Novo!
Abraça-o afetuosamente o amigo muito dedicado e agradecido.
J.V. Natividade
2 Janº 59.

Nota do Autor d´O grande Livro do Vinho- J.Duarte Amaral: «Este bom frade era decerto de opinião de que os religiosos não deviam ficar excluídos da possibilidade de provar as coisas boas que Deus proporcionou aos homens para seu prazer».

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24-01-2014


  

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

UM MONGE ESPONJA

UM MONGE ESPONJA.

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“Um no saco outro no papo”

 No “Grande livro do Vinho” de J. Duarte Amaral, encontrei, para mim, o início de uma pérola, que a seguir se reproduz:

“ Apesar do interesse importante que os monges desempenharam na cultura da vinha e no fabrico do vinho durante a Idade Média, nem sempre usufruíam do prazer de saborear à vontade o produto que ajudavam a criar. Assim em 1437, reinando D, Duarte, o vigário geral do Bispado do Porto, Pedro Vasques, foi encarregue de uma visitação ao mosteiro de 


Mosteiro de Santo Tirso
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Santo Tirso, onde os monges se queixavam do seu abade. Queriam os monges, e assim foi determinado a seu favor, que o abade fosse obrigado a dar-lhes vinho na qualidade e quantidade seguintes; vinho puro desde o S. Miguel ( 29 de Sembro)  até ao S.Martinho ( 11 de Novembro ) e  quartado de água  daí por diante: às terças-feiras uma quarta de vinho a cada monge; ração de pão e vinho aos serventes de mesa e aos leitores (intimando-se estes a cumprir a sua obrigação de lerem enquanto os monges comiam); meio almude vinho para a colação das festas de «4 em capas 2 em alvas»; dar pão quente e colação de vinho puro no dia de Endoenças (Quinta-Feira Santa).

Convento de Santa Clara - Coimbra
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Mais afortunadas eram as Monjas do Convento de Santa Clara, fundado 
por D. Afonso Sanches, filho de D. Dinis, em 1378, as quais usufruíam, por determinação do instituidor, de uma boa ração diária de vinho, a qual segundo Viterbo, era de uma canada (14 dl). O interesse dos monges (ou pelo menos de alguns deles…) pelo vinho não terminou na Idade Média. Tivemos acesso a duas interessantes cartas de um grande amigo e mestre, o Prof. J.  Vieira Natividade, que era um escritor primoroso,  ambas dirigidas ao amigo Manuel Meneres, e que com a devida autorização aqui reproduzimos :

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Meu caro amigo
Chegou aqui o precioso néctar, e em que glorioso momento! Tinha aqui , hospedado em minha casa , nada mais , nada menos, do  que um frade cisterciense francês, um autêntico monge de hábito branco, historiador  e artista , um frade em carne e osso que se dignou vir até estas nobres terras de Alcobaça  para falar comigo  sobre as  passadas glórias do Mosteiro e da Ordem de Cister.
Passámos três dias inolvidáveis debruçados, como irmãos, sobre o passado em piedosa romagem pelas celebradas terras da opulenta Abadia. E isto até ajuda a lavar a encardida alma de um pecador como eu!
Ora a certa altura, porque o santo varão me pareceu merecedor de honraria de vulto, dei-lhe a provar o tal rosé, verdadeira Lolobrígida vinificada, e a única perante a qual um austero frade pode, sem receio de pecar, pôr os olhos em alvo. Falei-lhe da poética cerca do Convento desse vergel que dir-se-ia tratado pelas «pomareiras mãos» dos filhos de Cister, e porque o rosé, com a sua agulhazita, espicaça e aquece a imaginação, dei-lhe a entender que o meu Amigo era nessas gloriosas e ásperas terras de Além-Marão um autêntico monge-agrónomo.
O bom do frade ficou para ali todo babado de ternura… A culpa é do rosé. O maroto atira-nos para o sentimento com mais suavidade que um fado cantado por Amália.
O digno frade voltará aqui em breve. Assim mo prometeu no abraço de despedida; porém, aqui para nós, desconfio que muito mais o atraem as garrafas de rosé do que o acerto das minhas falas …Mas, talvez seja juízo temerário porque o respeitável monge é pessoa morigerada e deve pairar acima das pecadoras tentações do mundo.
Ao bom monge pedi uma bênção especial para o meu Amigo, decerto a mais bem empregada que ele terá dado em toda a sua vida. Eu humildemente, bebi pela sua saúde e pela dos seus, com o coração repassado de gratidão.
Um afetuoso abraço do Amigo muito dedicado
E agradecido.
J. Vieira Natividade
29 de Junho de 958.

PS:A segunda carta, meses mais tarde, respeita a uma segunda visita do mesmo monge, pelo que para melhor compreender-mos o título deste post, porque, na minha aldeia,  a uma pessoa que bebe muito, é conhecida como uma « esponja», irei transcrevê-la, logo que tenha oportunidade. Vão ser que vai valer a pena esperar …. Pois, nela é revelada a verdadeira pérola, visto que o nosso amigo ia ficando com a garrafeira vazia.

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23-01-2014.